terça-feira, 12 de maio de 2009

Uma mensagem às editoras evangélicas: Adote um blogueiro cristão!


Uma mensagem às editoras evangélicas: Adote um blogueiro cristão!
Por Valmir Nascimento Milomem

Novos tempos exigem novas estratégias. Esse é um dos princípios basilares do mercado empresarial, que pontua a versatilidade e a pró-atividade como fatores preponderantes para adaptação e progressão das empresas em decorrência das transformações ocorridas na sociedade moderna.

No mercado editorial não é diferente. Progredir e acompanhar tendências não é uma questão de opção, mas de sobrevivência; principalmente se levarmos em conta a revolução digital pela qual o mundo passa, cujas inovações são cada vez mais céleres e inesperadas.

Ocorre que, no âmbito evangélico, as editoras ainda não conseguiram acompanhar as passadas largas do século XXI. Pelo menos no Brasil evidencia-se uma visão ultrapassada do mercado de livros, notadamente no que diz respeito à captação de novos autores. A grande maioria delas insiste na velha estratégia passiva de outrora, consistente em simplesmente aguardar as propostas de livros dos interessados, de modo que o roteiro para publicação de obras de autores desconhecidos é básico em todas elas: envie o manuscrito para a instituição (nada de CD ou disquete), com sua qualificação completa, acompanhado de uma carta de apresentação do seu pastor ou líder espiritual. Após, é só aguardar uma resposta, que, caso tudo corra bem, somente virá depois de uns…digamos… seis meses…isso se você tiver muita sorte (ou ajuda divina). Do contrário, seu projeto envelhecerá numa pia de manuscritos num canto qualquer da editora.

Em suma, essa é a sistemática padrão para o descobrimento de “novos talentos da literatura evangélica”. Quem quiser que se vire e procure a editora. É claro que existem excessões. Em algumas instituições a análise dos manuscritos é rápida e eficiente; n´outras, são realizados concursos com o fim de revelar novos autores. Tenho pra mim que a iniciativa é boa, porém, insuficiente. O mesmo trabalho e motivação que o escritor precisa ter para encaminhar sua obra para análise pela editora é o mesmo para se inscrever no concurso.
O problema da falta de novos escritores evangélicos

Em razão dessa mentalidade arcaica e da falta de estratégias atuais para a revelação de escritores é que o surgimento de nomes na literatura evangélica brasileira segue em marcha lenta; quase retrocedendo. E o problema é mais grave do que se imagina. O resultado é uma acentuada debilidade da cultura teológica nacional, que segue com pouca – ou quase nenhuma relevância e expressão para o pensamento cristão. Isso porque, o fortalecimento das bases teológicas de uma determinada língua é proporcional à qualidade das obras por ela publicada. A quantidade, em si, não é o fator preponderante; mas, no mínimo, corrobora para o estabelecimento de uma prática produtiva e que fomenta a reflexão dos temas bíblicos em suas diversas matizes. Os Estados Unidos são prova disso. Está arraigado na vivência americana a necessidade de produção de obras literárias, tanto é assim que basta visitarmos qualquer livraria para constatarmos a quantidade de obras produzidas pelos americanos e aquelas produzidas por escritores de outras nacionalidades.

E a debilidade da teologia tupiniquim é algo patente. Para ser bem mais exato, nós, brasileiros, não possuimos teologia própria, devidamente estabelecida. O que existem, isso sim, são práticas religiosas made in Brasil. No que se refere ao pensamento teológico, infelizmente ainda estamos na fase da importação, onde o escritor brasileiro basicamente compila o pensamento de autores estrangeiros. Há excessões, evidente!

Observe o seguinte. Teologia própria não é sinônimo de ineditismo teológico que, não poucas vezes, contribui para o surgimento de teorias extravangantes sem qualquer respaldo bíblico, com a única intenção de criar algo novo e, com isso, despertar a atenção do públito leitor, como é o caso das ditas teologias pós-modernas como bem explicitado por em sua obra A sedução das novas teologias (CPAD).

O escritor evangélico, anota , não é um intermediário de “novas verdades”, “novas revelações” ou especialista em especulação teológica. Infelizmente, diz ele, “o que tem causado mais estrago em nosso meio são essas aberrações apresentadas como se fossem as mais novas descobertas no campo da espiritualidade e da teologia. Quantas heresias, quantos modismos, quanto sensacionalismo têm feito mal à vinha do Senhor por causa de escritores inescrupulosos e meramente comerciais! O que importa, para eles, é quanto entrou no caixa!”[1].
Teologia própria, devo anotar, portanto, é a disposição continua de pesquisa e investigação da temática teológica em suas múltiplas divisões, acompanhado da produção e publicação do conhecimento, que, com o tempo vai se fortalecendo e ganhando expressividade de acordo com os autores de língua nacional. E é exatamente essa produção de conhecimento que promoverá efeitos reflexos para o público leitor, através da leitura crítica. Nesse ponto, então, se concentra o papel basilar das editores para a produção de conhecimento; saindo da posição mercantilista, com os olhos voltados nos lucros, para a posição de agente incentivador da tomada de consciência por parte dos evangélicos, através da publicação de obras que possuam conteúdo e que contribuam para a formação de uma cosmovisão essencialmente cristã fundamentada na Bíblia.

De outra banda, enquanto as editoras evangélicas mantiverem a mesma sistemática de publicação de livros, de simples receptora de manuscritos, a cultura de produção de conhecimento teológico continuará no mesmo patamar, ou, no máximo, crescerá com índices mínimos. Afinal, na forma como está, tornar-se escritor evangélico no Brasil é quase questão de milagre ou, ainda, é preciso muita força de vontade por parte do interessado para ter a sua obra publicada, caso em que merecem aplausos aqueles que conseguiram tal façanha.

A hora da prospecção de novos autores

Acredito, portanto, que o contexto atual impõe às editoras evangélicas estratégia diferenciada. É preciso sair da posição de passividade para a proatividade. Isto é, ao invés de aguardar o escritor, é necessário que a editora vá atrás deles. Isso, por questões bem simples:

Primeiro, existe uma quantidade significativa de escritores evangélicos de talento escondidos por essa Brasil afora, entretanto, por medo de receberem um “não” das editoras acabam não apresentando suas obras para apreciação.

Segundo, apesar da habilidade na escrita, falta a essas pessoas o conhecimento necessário para a sistematização de um livro; caso em que, algumas dicas e conselhos de profissionais do ramo resolveria o problema.

Terceiro, um dos grande inimigos dos novos escritores é o desânimo no meio do processo. A incerteza sobre a aceitação do trabalho ou a falta de convicção sobre a necessidade do conteúdo são fatores que levam o autor a abandonar o projeto.

Assim, o simples fato de o autor ser contactado pela editora, e dela receba instruções, dicas e apoio para a condução da obra, resolveria grande parte dos problemas dos novos escritores. Afinal, uma vez ciente do apoio da editora teria ele muito mais motivação e subsídios para concluir o livro.

Prospectar profissionais, ou seja, contactá-los antecipadamente, não é algo novo. Grandes empresas visionárias já fazem isso há um bom tempo. Nos Estados Unidos, por exemplo, elas captam os melhores alunos de universidades como Harvard e Yale já no meio do curso.

A prospecção de autores, de igual modo, também já é comum no ambiente da blogosfera. Denise Schittine [2] conta o caso do blogueiro iraniano que foi contratado pelo jornal britãnico The Guardian, com o pseudônimo Salam Pax, para escrever sobre o dia a dia em Bagdá, cujas postagem foram reunidas em livro, publicado no Brasil em 2003, sob o título “O blog de Bagdá” pela companhia das Letras. Como observou Schittine, “agora não é mais o blogueiro que procura o meio de comunicação – o próprio jornal começa a ver a internet como fonte de informação”.

O blogueiro de Bagbá não é o único caso. Vários jornais, revistas e empresas de tecnologia adotam esse mesmo expediente, contratando profissionais cuja capacidade ficou notória através de suas respectivas páginas na internet. Hugh Hewitth, inclusive, no livro “Blog: entenda a revolução que vai mudar o seu mundo” aconselha as empresas a agirem da seguinte forma: “Descubra cinco blogueiros de que goste, de preferência com tráfego mediano – não alto, a não ser que você tenha um grande orçamento, e não tão baixo a ponto de não superar um obstáculo por dia. Envie aos cinco – ou aos 25 caso você seja a Coca Cola ou a GM – um e-mail oferecendo um emprego de blogueiro. Peça a eles que façam o preços. Escolha três. Peça-lhes que pensem em suas necessidades, que são…”.[3]
Isso é prospectar!

Blogosfera: vitrine de novos escritores

A blogosfera é, por excelência, a vitrine dos novos escritores. Como escreveu Hugh Hewitt: “os talentos estão em exposição todos os dias”. O blog é o portfólio público da visão e da habilidade do escrivinhador. Nela, é possível verificar a capacidade, o conhecimento e o estilo do autor.
Na blogosfera cristã encontramos uma quantidade considerável de excelentes autores que escrevem com propriedade sobre os mais variados temas cristãos. Temos blogs que abortam temas a vida cristã, educação cristã, teologia, defesa da fé, adoração, geografia bíblica, etc. Ou seja, os talentos estão aí, alguns, inclusive, muito mais habilidosos do que escritores com livros publicados. Para ser mais exato, nunca foi tão fácil encontrar bons escritores. Basta pesquisar um pouco que se encontra bons trabalhos. Isso pode ser feito na , que conta atualmente com quase 4 mil blogs associados.

É claro. Não sou inocente. Existe também o joio. Blogs de péssima qualidade na internet. Assim como existem verdadeiros lixos publicados pelas editoras evangélicas, que se prestam somente a tomar espaço nas livrarias e bibliotecas.

Editora Evangélica: “Adote um talento da blogosfera cristã”

Portanto, fica aqui o meu alerta aos profissionais responsáveis pelos setores de publicação de livros das editoras evangélicas, no sentido de abrirem um pouco mais a visão e partirem para a captação de bons escritores dentro do ambiente da blogosfera.
Faço isso porque acredito que esse espaço é visitado por muitos desses profissionais, os quais estão atentos aos acontecimentos da internet e com as mudanças dos tempos atuais. Mas, além de observar as transformações, é chegada a hora de colocar essas idéias em prática, visando não somente a publicação de mais uma ou outra obra, mas principalmente ao descobrimento, a formação e a lapidação de novos talentos para a literatura evangélica brasileira.
Então, fica aqui a mensagem às editoras evangélicas do Brasil: “Adote um talento da blogosfera cristã!”

Valmir Nascimento Milomem é graduado e pós-graduado em Direito. Educador, blogueiro cristão e um dos idealizadores da – associação que atualmente congrega mais de 3 mil blogs de cultura cristã.
Blog: www.comoviveremos.com

Notas:
[1] COUTO, Geremias do. A Bíblia ou os livros? (Parte II). Disponível em: http://geremiasdocouto.blogspot.com/2007/05/bblia-ou-os-livros-parte-ii.html
[2] SCHITTINE, Denise. Blog: Comunicação e escrita íntima na internet. Editoria Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2007, p. 160.
[3] HEWITT, Hugh. Blog: Entenda a revolução que vai mudar o seu mundo. Thomas Nelson Brasil, Rio de Janeiro, 2007, p. 172.
Use, mas cite a fonte.

10 Comentários:

12 de maio de 2009 18:00

Muito boa a iniciativa, realmente pelo que tenho lido na nossa Blogosfera, muitos são os talentos, que se anunciam. Cabe acrescentar que não apenas as editoras, mas também os jornais, revistas e sites, podem achar na nossa UBE, conteudo suficiente, para prencher seus periodicos.

www.pastordanielmarcos.blogspot.com
www.asemente.jor.br

12 de maio de 2009 18:23

C0oncordo plenamente e com certeza existem grandes talentos que estão por ai escondidos e negligenciados por muitas editoras que deveriam sim lançar estes talentos para o mundo!
ótima iniciativa!
http://louvordoceu.blogspot.com
http://louvordoceu.blogspot.com

12 de maio de 2009 22:53

Além de concordar plenamente com o texto, análisando de um ponto de vista crítico o texto pode resumir-se aqui:

"A grande maioria delas insiste na velha estratégia passiva de outrora, consistente em simplesmente aguardar as propostas de livros dos interessados, de modo que o roteiro para publicação de obras de autores desconhecidos é básico em todas elas: envie o manuscrito para a instituição (nada de CD ou disquete), com sua qualificação completa, acompanhado de uma carta de apresentação do seu pastor ou líder espiritual. Após, é só aguardar uma resposta, que, caso tudo corra bem, somente virá depois de uns…digamos… seis meses…isso se você tiver muita sorte (ou ajuda divina). Do contrário, seu projeto envelhecerá numa pia de manuscritos num canto qualquer da editora."

Se as editoras se esforçasem mais em reconhecer os tantos escritores que existem por ai, muitos livros seria impressos.
Sem contar os que não tem condições de publicar seus textos em grandes editoras como CPAD, MUNDO CRISTÃO, VIDA, etc.

Então o que resta muitas vezes é publicar de forma independente o que dificulta a divulgação.
Vamos esperar os dias passarem pra ve se alguma coisa muda, mas, é difícil.

Parabéns pelo texto e Deus abençoe!

13 de maio de 2009 09:49

Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo;(Sl1.3)
Assim díz a palavra do Senhor, também em Gn diz que o Senhor disse produza a terra árvores cuja a semente estejam nelas, e dessa mesma forma somos nós, assim como esse texto abençoador que o amado compartilhou conosco, dando o seu fruto no tempo certo, existem muitos outros que têm frutos, estão plantados junto a ribeiros mas, nao abençoam, não lançam a semente, nao alimentam ninguem, que da forma produtiva e evolutiva ao qual te referiste a essa maravilhosa blogosfera, muitos outros ligados a editoras, e sites, e programas de radiodifusão possam buscar novos talentos, verdadeiros servos do altissimo para assim darem continuidade a constante renovação do Espirito em nossas vidas, que Deus possa continuar te usando naquilo que ja o faz quanto na consolação dos santos incentivando e promovendo o caracter cristão. Graça e Paz.

Não retenha. De graça recebestes de graça dai.

13 de maio de 2009 10:07

Também assino nesta idéia. Como escritor e leitor de blogs na grande rede, sei que há muita gente boa escondida por aí que tem muito a acrescentar ao povo evangangélico brasileiro.

http://ibsolnascente.blogspot.com

Faculdade de Teologia 15 de maio de 2009 10:24

Também assino nesta idéia. uma grande benção.

16 de maio de 2009 23:26

Olá Valmir,

Excelente texto, parabéns! Endosso minha assinatura juntamente com os colegas que já deixaram seus comentários acima. Você foi cirurgicamente perfeito na questão sobre a dificuldade de acesso dos novos talentos às editoras, mas acredito que vale a pena destacar ainda outro fator limitador: a falta de compreensão do mercado editorial sob demanda e o digital através dos e-books ou livros virtuais por parte das editoras.
Este é um conceito que vem aos poucos ganhando mercado e se as grandes e tradicionais editoras não se adequarem a estes novos modelos editoriais, a exemplo do mercado fonográfico, acredito que terão sérios problemas no futuro.
Outro fator complicador para as editoras é o também crescente número de lançamentos independentes.

30 de maio de 2009 09:35

Li, e corcordo em inteiro teor, com o texto acima. E parabenizo a iniciativa da UBE e demais, por sinalizar as editoras quanto a captação de novos escritores via blog, tanto quanto, da necessidade de se produzir em maior escala, literatura para o nosso povo brasileiro.

Daniel Alves 8 de junho de 2009 04:16

Na grande realidade, acho eu que falta incentivo por parte das editoras e mídia em geral.
A preguiça de alguns em ler artigos muita das vezes os fazem perderem verdadeiras perolas com mensagens implícitas e explicitas que em muitas das vezes superam uma pregação em púlpito.
Não querendo desprestigiar os mensageiros, mas me refiro aos preguiçosos que preferem somente ouvir pois já vem mastigado.

23 de junho de 2009 12:08

Oi , vou participar do blog. Que bênção!
Acabo de escrever um Livro e gostaria de publica-lo

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